Durante a gestação, muitas vezes, alguns conflitos surgem como uma oportunidade para a mulher liquidar “contas” e conflitos consigo mesma e com a vida. Isso acontece, justamente, para que ela consiga colocar outra vida no mundo. Por mais que esse processo possa ser complexo e, por vezes, doloroso, uma coisa eu garanto: tudo se transforma e, ao mesmo tempo, se ajeita. Confie. Aliás, na maternidade, não há nada mais importante que a confiança – em você, na vida, nas transformações, nos aprendizados, nas mudanças, no vínculo.
O Pré-natal Emocional é uma abordagem diferenciada justamente por contemplar as diversas nuances presentes na vivência da maternidade e/ou paternidade. Nesse trabalho que desenvolvo, o foco não está apenas nos exames e ganho de peso da mãe e bebê, por exemplo, disso as especialidades médicas e obstétricas cuidam seguramente. A mim compete o olhar para o fluxo emocional da mulher e de sua família, por consequência. É fundamental considerar a saúde emocional como um dos aspectos de extrema importância e cuidado durante todo o processo gravídico-puerperal e por isso se faz necessário um olhar multidisciplinar e uma escuta ativa para acolher a mulher e sua família, quando necessário.
Foram muitos os caminhos que me fizeram chegar até o formato desse projeto, inclusive, minha própria maternidade também contribuiu, mas, como doula, acumulei experiências extremamente ricas que me fizeram pensar em um formato de atendimento extremamente especial. Lembro de um parto que acompanhei como doula, que foi idealizado como domiciliar, mas precisou de transferência para o hospital, após algumas horas de bolsa rota. Nunca vou esquecer como minha cliente foi hostilizada. Estar ali, ao lado dela, presenciando tantas coisas desagradáveis naquele que deveria ser o momento mais sublime de sua vida me fez refletir muito.
Para parir, no Brasil, há de se ter coragem. Muita coragem para bancar suas escolhas. E, infelizmente, escolher é algo que ainda não nos ensinaram. A verdade é que a mulher pouco tem direito de escolher qualquer coisa nesse país. Ela não tem direito ao próprio corpo, não tem direito a ter voz. E desconstruir isso internamente, por vezes, é ainda mais difícil do que o discurso social prega. As mulheres sofrem e se culpam da hora que pegam o resultado até o resto de seus dias como mães, exceto aquelas que trabalham de dentro para fora a real compreensão de si mesmas e consegue a absolvição dessa tal culpa materna, principalmente aquela que prega a submissão a esse sistema doentio, que impõe suas regras às mulheres, gestantes e mães.
Por mais que a desconstrução seja um caminho importante para as mulheres, ele não é fácil, nem simples. Desconstruir fragmenta muita coisa e por isso a parceria de uma profissional especializada ajuda. Eu sei disso porque essa, afinal, é a minha formação. Mas, para mim, não bastava escutar, porque a realidade nem sempre é neutra: sim, existem muitos psicólogos escutando, porém, julgando mulheres e mães por suas escolhas. Muitos profissionais, por exemplo, tratariam o medo de hospital como fobia. E sabe por que eles fariam isso? Porque eles não conhecem de perto o que essas mulheres passam. A maioria nunca esteve ali, no olho do furacão, para saber o que, de fato, ela está falando. Eu, como doula, estou constantemente nesses espaços presenciando ao que são submetidas de forma velada ou explícita. Esse repertório me leva a respeitar muito, cada dia mais, o mundo interno de cada cliente minha e seu contexto.
Quando idealizei o Pré-natal Emocional, somei a psicologia com a doulagem e isso resultou em um projeto de cuidado diferenciado para as características psíquicas e emocionais de cada gestante e dá um passo além, ao auxiliar aquela mulher a construir seu parto, a partir de seu contexto emocional, físico e financeiro. Ou seja, o foco principal é auxiliar em um momento que, sem floreios, a depender de muita coisa, será um divisor de águas, para o bem ou para mal. Meu trabalho busca construir com cada mulher aquilo que ela almeja e, em geral, quem chega até mim deseja construir uma história de amor e cuidado, bancando os desafios reais, porém, com mais maturidade e equilíbrio emocional.
O resultado disso tudo é uma maternidade possível em todos os aspectos: mulheres mais acolhedoras, compreensivas e corajosas, cuidadoras acima de tudo de si mesmas e, por isso, excelentes mães para seus bebês. A gravidez e o parto são só os primeiros passos para uma mudança que perdura todo o resto das nossas vidas.